domingo, 25 de abril de 2010

Viajar vicia...

... e ler coisinhas engraçadinhas ditas por crianças, também!





Lembra da amiga da minha tia, a Luiza Meyer, que é viciada em viajar e é autora do blog Viajar Vicia sobre o qual comentei em um dos posts daqui? Pois é. Ela vai lançar um livro, que não é sobre viagens, mas é sobre uma coisinha igualmente viciante e encantadora: criança. O livro Palavra de Criança reúne muitas frases fofas e engraçadas ditas por essas preciosidades e relatadas para ela pelos pais, amigos, tios, etc. Para quem está em BH, o lançamento será no próximo dia 27, a partir das 19h, na Leitura, do Pátio Savassi .
Eu vou!!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Partir é chegar...

... e chegar nem sempre nos é menos doloroso que partir.
Há um pouco mais de um mês da minha chegada no Brasil, na minha cidade, na minha casa, encontro-me sentada no chão do meu quarto fazendo novamente uma mala (engraçado que com um mesmo cachorro, a minha poodle Vida, que não pode ver uma mala aberta ou alguma beirada de pano dando sopa ao seu alcance, deitada dentro dela. Ela ainda insiste em querer ir comigo para algum lugar hehehe). A mesma mala que viveu comigo 4 meses inesquecíveis em Londres agora irá me acompanhar em uma viagem de cruzeiro pela Argentina e Uruguai, planejada há quase um ano. Ela foi esquematizada de forma completamente diferente de como irá acontecer. O que me faz lembrar exatamente da vida, de como ela é e de como nela TUDO MUDA, o tempo todo no mundo. Nela, não podemos prever NADA. Fazer planos e traçar metas e rotas é importante, creio eu, mas não podemos tentar adivinhar os tão famosos imprevistos que nos assolam. É fato! O que me aconteceu no ano que acaba de ir embora é exemplo vivo disso. Lembro-me de exatos 12 meses atrás traçar planos e metas bem diferentes para o ano novo que viria. Londres? Nem de longe estava em meus desejos para 2009. Eu só queria continuar no meu emprego, talvez iniciar uma pós que ainda não sabia em que, libertar-me do passado e viver o presente intensamente. Queria que o tempo passasse rápido para que isso fosse possível. Ele, claro, não parou. E as surpresas da vida foram aparecendo na medida em que íamos vivendo os dias e os meses. Em Junho surgiu a ideia de ir pra Londres. Passei a borracha nos meus planos riscados no final de 2008. Era a chance perfeita de mudá-los para melhor, e assim foi (ainda espero concordar em gênero, número e grau com isso).

Semana do Reveillon. Essa seria a semana da minha chegada após quase 6 meses fora do Brasil. Mesmo tendo chegado antes do previsto, a readaptação não foi fácil. Após a alegria do reencontro com nossos amigos e familiares e a chama do fogo da saudade ter sido apagada, era hora de enfrentar a realidade mais uma vez e agora com as mangas arregaçadas para ajudar na luta contra o câncer (e tudo o que vem com ele já incluso no pacote) da minha vó. Fora isso, os sentimentos que envolvem o chegar em casa após um período fora é um tanto quanto complicado de se entender e de explicar. Porém, remexendo em textos antigos de um dos meus escritores favoritos, o Caio Fernando de Abreu, pude ao menos começar a entender o que estava sentindo naquelas primeiras semanas de readaptação ao ler uma de suas boas frases:

"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto."
É exatamante isso o que acontece. Viajar é isso! É querer sempre mais. É viciar. E junto com todo seu vício, as crises de abstinência quando não se está viajando. É estranho pensar na lógica do tal porto que Caio coloca na frase. Você, quando está em outro país, não se sente parte dele. Não foi ali que nasceu, portanto não precisa se importar com a política dele, a economia os problemas corriqueiros que o envolvem. Às vezes você acaba descobrindo que não é ali seu porto. Como pode ser alí seu ponto final, o lugar onde deseja ficar o resto de suas vidas, criar raiz, constituir família, encontrar profissão. Mas, quando não é e tem que voltar ao seu país de origem, PUTZ!você sente uma coisa estranha, uma sensação de também não fazer mais parte dele. Ops! Oh, dear me! "Deve haver um porto". Não é possíííível!!Caio tem toda razão... Outro fato fica claro ao retornar: tudo (e todos) continua(m) do mesmo jeitinho. Parece que antes de sair você apertou o stop no controle remoto e foi. Viveu, aprendeu, adquiriu cultura, mais experiência em todos os sentidos e as pessoas daqui, não. E isso, minha gente, não estória de viajante não, hein? Daí você chega, encontra seus amigos, senta na mesa do bar e na primeira conversa sobre a vida, ao tocar no nome do País onde estava, passa de “saudade” à pessoa mais chata, metida e aparecida do mundo todo. Genteeee! Mas o que deve ser dito se nos últimos sei lá quantos meses, anos ou dias, sua vida foi lá??? E se tudo o que viveu não foi aqui no mesmo BATcanal, no mesmo BATlugar? ? Eu, hein?!!? (Contudo, entretanto, todavia, infelizmente (ou felizmente, a vida pode te mostrar mais tarde e com o passar dos dias) não podemos dizer que nada muda. Algumas coisas, justamente aquelas quais que você menos queria que mudasse, mudam. É sua velha-nova vida continuando e sua chegada nem sempre menos dolorosa que a partida...

A vida da gente vive mudando e insiste em não nos comunicar tais mudanças. Mas, aprendi que o mais importante é que saibamos vê-las como novas experiências, novos aprendizados. São essas surpresas que nos mostram quem somos e para que aqui viemos. Isso se você estiver aberto e pronto para enxergar a si mesmo. No nosso caso, mais uma vez, quando resolvermos trocar nossas passagens e voltar, novos planos foram redesenhados. E quando chegamos aqui e nos vimos diante de um novo desafio, redesenhamos novamente os planos. Ainda essa semana, recebemos uma notícia que talvez nos fará mudá-los novamente. That´s life, “é a vida” (agora em inglês). Assim, no primeiro dia do ano novo, resolvi então que não traçarei planos de futuro para 2010. Sem saber se isso é bom ou ruim, e contrariando talvez todos os terapeutas do universo, para o próximo só tenho a intenção de VIVER com ESPERANÇA (com todos os sentidos que essas duas palavras podem significar para mim e para você). E a única certeza que tenho é que esse é um dos "não-planos" mais perfeitos que já tracei em todos esses meus (quase!) 28 anos de vida.


O que se pode confirmar após sua chegada:

*Quando você está longe de casa, quer voltar para sua família, sua casa, seus amigos. Sente falta do banheiro, do clima, da água, dos cachorros, da sua caminha gostosa;

*quando está em casa, sente falta do que estava vivendo. Da árdua rotina, de ouvir a língua, dos novos amigos, da casa onde morava, da cama quebrada onde dormia, do céu cinza que te cobria. Até do frio INENARRÁVEL você sente saudades;

*que algumas pessoas você consegue amar ainda mais quando está longe, e outras que você consegue amar mais quando está longe;

*que seu País é lindo, mas o transporte público é terrível, a atenção à saúde uma lástima e a miséria um absurdo;

*que o calor só é bom quando se vive no frio e que vivendo nele você não sobrevive apenas de um banho por dia (ou a cada dois dias). Sendo assim, nada de permanecer exalando o mesmo cheiro bom de seu perfume, mesmo que o tenha passado no dia anterior à essa descoberta ;*);

*que tudo no seu país é caro, mesmo tendo vivido em Londres, e que o seu acesso às coisas boas e de qualidade são beeeeeem mais difíceis. Muiiiiiiiito mais difíceis. Praticamente impossíveis :*S;

*que a lei que proíbe o fumo dentro de lugares públicos é MARAVILHOSA sim! Principalmente depois de tentar ficar em uma pequena boate e não conseguir manter os olhos abertos por causa da fumaça, e não pela vibe do momento! (E viva a velha, que aqui é nova, lei chegando por aí!!!);

*que viajar é maravilhoso. E que é muito triste viver tão longe da Europa e não poder rodá-la gastando tão pouco em passagens aéreas (apesar de termos lugares maravilhosos para conhecer e com muita cultura no Brasil, mas obviamente, não pelos mesmos preços);

*e etc. etc. e etc. e tal.


FELIZ FELICIDADE PARA TODOS EM 2010! SAÚDE!!!SAÚDE!!!SAÚDE!!!Para mim, para você e para aqueles que amamos. ;*)
*Fotografia de Joana Linda, London

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Planos e tickets trocados...

... estamos voando de volta para o Brasil

Tudo resolvido. Planos e passagens trocadas, estamos voltando para a casa um pouco mais de um mês antes do previsto. Às vezes a vida nos prega peças. São essas as horas em que nós mesmos nos testamos. O que fazer com essas peças? Você pode desistir e não montar nada com elas, mas, você pode construir um castelo...

Fomos para Amsterdam no antepenúltimo fim de semana. Pense em um País louco. Então pense em Amsterdam. Você pode sentar em um café, pedir o menu e escolher qual o tipo de maconha que quer fumar (geralmente nesses cafés onde você pode fumar livremente, não vendem bebidas). Ou você pode ir na Red Light, uma rua, onde prostitutas dançam em janelas de vidro a espera de um programa. Quando acham algum aventureiro, fecham as cortinas, trabalham por dez minutos e tchau. Pronta para o próximo da fila. E a cidade é linda. Linda. Linda. Uma das coisas com a qual fiquei impressionada na capital da Holanda é a quantidade de gente que fala inglês por lá. Acho que não vi nenhum nativo que não falasse. Algumas pessoas, como minha guia, ou o velhinho que fabricava aqueles famosos tamancos de madeira holandeses, falavam SETE línguas. Por que será que no Brasil não vemos isso? Será falta de educação? Será a falta de oportunidades? Será falta de tempo dos que precisam trabalhar pesado pra sobreviver e de dinheiro também para estudar outras línguas? Enfim... Ficamos por lá quatro dias e quando chegamos, recebemos uma notícia vinda do Brasil. Minha vozinha linda precisa da gente lá agora.
Assim, essa última semana que se passou foi também a última na escola. Como de praxe, todos os que chegam nela e os que estão partindo, devem responder a um questionário com as perguntinhas básicas: o que achou da escola, nota para o ensino, etc. Ao preencher o questionário me dei conta de que ficamos lá por exatos 4 meses. Ao longo desse tempo, são incontáveis as experiências maravilhosas que vivenciamos.


Não estava mesmo em nossos planos ir embora por agora. Mas, planos melhores foram traçados para gente. Estamos voltando. Uma pessoa maravilhosa e preciosa precisa da gente agora, e nós, mais do que ela mesma, precisamos estar com ela. Estamos felizes por ter direito a essa escolha. Estamos felizes por ter vivido tanta coisa boa. Nunca esqueceremos os medos iniciais, as brigas homéricas contra o inglês, a adaptação com a diferente cultura, as novas amizades, a felicidade de cada descoberta, a dor e o sabor da saudade e de cada conquista, a cultura adquirida com as conversas dentro de sala, cada divertimento vivido e as nossas inesquecíveis e maravilhosas viagens à Paris e Amsterdam. O que levo disso tudo que vivi aqui é incalculável. Aprendi que sou dona da minha própria vida e que o meu caminho sou eu quem faço. Hoje sei que sou capaz do que nunca imaginava ser, aprendi a estar comigo mesma, a me sentir especial e a gostar disso (sentir a verdade em cada abraço ao contar o motivo da nossa repentina partida e ouvir coisas boas de levar pra sempre no coração e na alma, só me fez confirmar isso). Descobri que realmente a vida é curta e o mundo é pequeno (Small World! Você pode dar a volta nele se quiser), que algumas pessoas te surpreendem e, mais do que importante, não importa onde você esteja, sua família é seu ponto de partida, seu ponto de chegada, tudo aquilo que mais importa na sua vida. Eles sim continuarão esperando por você, não importa a decisão que tenha tomado, não importa o caminho que tenha escolhido seguir, eles estarão sempre de braços abertos esperando, sem maiores julgamentos, apenas felizes por sua chegada. Por isso, estamos voltando. Porque é recíproco e porque estamos absolutamente certas de que o que queremos agora é nos envolver nesses braços e começarmos, juntos, a construção de mais um castelo.

Já estamos indo vozinha. Porque a amamos demais. E queremos estar do seu ladinho, assim como esteve sempre do nosso, desde quando nos entendemos por gente. Estamos indo, porque queremos ouvir seus casinhos e rir deles com você. Comer suas comidinhas gostosas, uhmmm, te encher de muitos beijinhos, abraços, cafungadas no cangote pra sentir seu cheirinho e dizer no seu ouvidinho que não precisa ter medo, porque tudo vai dar certo. Tudo.

E não! Esse não é o fim. Esse sim é o GRANDE começo.

"Não sei se estou perto ou longe demais, se peguei o rumo certo ou errado. Sei apenas que sigo em frente, vivendo dias iguais de forma diferente. Já não caminho mais sozinha, levo comigo cada recordação, cada vivência, cada lição. E, mesmo que tudo não ande da forma que eu gostaria, saber que já não sou a mesma de ontem me faz perceber que valeu a pena." (Thais S.G)

Ô! E se valeu...

Obrigada PAI, obrigada MÃE! Vocês são nossos tesouros.
Jamais iremos esquecer o que fizeram e continuam fazendo
por nós. Amamos vocês :*)



;*)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

London, London

Matando o tempo em uma tarde fria de outono e ouvindo músicas na nossa "salinha", as usual, acabei encontrando essa boa versão da caetanística London, London, feita pela Cibelle e Devendra Benhart (adoro!), com direito à gravação pelas ruas de Londres e tudo mais : *)




Não sei porque cargas d´água Caetano escreveu essa música, mas a danada parece ter sido escrita na escrivaninha do segundo quarto à direita da minha alma. Já a ouvi N vezes, na versão RPM, Caetano, Gal, Cibelle, etc. Mas, nunca sua letra fez tanto sentindo para mim como agora. É tudo exatamente o que sinto estando aqui. Longe de mim querer analisar a letra de "Caê", porque bala na agulha pra isso aqui, meus caros, passou foi é longe. Mas, posso ME analisar baseando-me nela. Repentinamente, eis que me surge a oportunidade de morar em Londres. Mas, antes de vir, dei pausa na minha vida no Brasil. Deixei emprego e a minha vida pessoal coloquei em stand by (por motivos pessoais óbvios). Cá estou eu. Estou sozinha em Londres,
e Londres é encantadora assim. Solidão, paz, outono, grama verde, olhos azuis, céu cinza, passos sem medo. Acontece apenas de eu estar aqui, e tudo bem. Eu vim pra dizer sim e continuarei dizendo. Até Dezembro, enquanto meus olhos procuram por discos voadores no céu de London, London ...

Quem sabe eles não acabam achando?? ;*)



London, London
Caetano Veloso

I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good to live, at least, and I agree
He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say

While my eyes go looking for flying saucers in the sky


London, London
Caetano Veloso

Eu estou vagando por aí, sem ter pra onde ir
Eu estou sozinho em Londres, Londres é encantadora assim
Eu cruzo as ruas sem medo
Todos mantem o caminho livre
Eu sei, eu sei, ninguem pra dizer olá
Eu sei que eles mantem o caminho livre
Eu estou sozinho em Londres sem medo
Eu estou vagando por aí, sem ter pra onde ir

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

Domingo, segunda, outono passam por mim
E pessoas se apressam tão calmamente
Um grupo se aproxima de um policial
Ele parece tão grato em ajudá-los
É bom viver, ao menos, e eu concordo
Ele parece tão grato, ao menos
E é tão bom viver em paz
Domingo, segunda, anos e eu concordo

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

Eu escolho rosto nenhum pra olhar, escolho nenhum caminho
Acontece apenas de eu estar aqui, e está tudo bem
A grama verde, olhos azuis, céu cinza
Deus abençoe a dor silenciosa e a alegria
Eu vim pra dizer sim, e eu digo

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Moramos em Abbey Road, a famosa Rua dos Beatles, com mais sete pessoas...

... e alguns ratos!!

É. Foi isso que a Mariana falou pra professora dela no nosso último teste oral da escola. E ela não estava errada.

Um dos lugares em que mais ficamos na nossa casa é a copa. É nela que tomamos café, almoçamos, jantamos, estudamos, tomamos cerveja ou vinho e nos reunimos de noite pra papear (até pra fazer piercing ela já serviu, quando a amiga da Má que é Body Piercer aqui em Londres, veio pra fazer um na Xuxa e acabou reabrindo o meu do umbigo que fechou há uns meses. E eu estava ali, bem ali, sentada na cadeira da copa kkkk). Em dia de festas é ainda nela que passamos a maior parte do tempo. É na copa também que fica o computador. E a Ludi, em muitas horas do seu dia (hehe). Uma bela noite estávamos nós duas lá batendo papo, cada qual em seu lugar cativo, quando de repente, embaixo da cadeira onde ela estava sentada, eu vi um ratinho marrom. Foi aí que fui apresentada a ele. Ou melhor, ele se apresentou a mim. O Mickey. De ótima aparência e desenvoltura mínima. Pequenino, marronzinho e bonitinho o danado. Pulando logo essa parte da nossa amazing apresentação (fiquei tão eufórica de alegria que de um pulo só fui parar em cima da cadeira), caminhemos para a página que mais nos importa da história. Descoberta a casa do nosso amiguinho fomos desvendando sua família. Não sabemos ao certo quantos eram (e são hehe), mas sabemos que existe uma primeira dama, e essa foi batizada pela Marcela como Pompom.
O Thiago comprou vários sticks (tipo adesivo mesmo) para tentar pegá-los. Após várias tentativas em vão, na esperança de “colar” os digníssimos no sticks, eis que, um belo dia, a Ludi (bem mais tarde que vim a tomar conhecimento dessa terrível serial killer de ratos) colocou o stick no lugar certeiro (e deu uma risada tenebrosa quando ficou sabendo do sucesso obtido com o próprio feito). Era manhã e estávamos nos arrumando pra ir pra aula, quando a Mariana chegou com a cara mais entristecida do universo “é o ratinho. Preso no stick pelas patinhas, chorando e tentando sair”. Passei léguas da cozinha a partir desse momento. Fechava o olho e corria pra fazer o que tinha que fazer lá no intuito de não vê-lo ali, preso e entregue ao seu sombrio e doloroso destino. Nesse mesmo momento, em um diferente cômodo da casa, Estevam também estava entregue, mas aos braços de Morfeu. Foi aí que fomos até ele e pedimos encarecidamente para que se levantasse e cumprisse o papel de um dos machos da casa. O tiramos dos confortáveis membros superiores do deus dos sonhos e ordenamos que desse um jeito de limpar aquele triste cenário. Ele assim o fez. Levantou. Mas, entre a desgarrada dos braços do Morfeu e a árdua decisão de provar que ele não era (ou era?) mesmo um saco de batatas, a polonesa (quem tem nos confirmado por A mais B que nas horas de apuros uma mulher consegue ser mais macho que muito homem (outro dia ela matou uma aranha gigante no quarto dela e da Ludi)) subiu as escadas primeiro. Pegou a tesoura e cortou o stick, depois de dizer choramingando: “so fuckin tiny (tão pequenininho, essa p...)”. Começaram a discutir o destino do destino do rato. Escutei tudo bem escondida no banheiro. Estevam mandando jogar no lixo (Just throw in the bin (essa agora é uma frase constante usada por nós aqui, de tão engraçado que foi) e a Camila chorando e gritando falando que não era justo que ele ia sofrer até morrer, que preferia jogar pela janela, que assim ele ia morrer de uma vez, e se descabelando que era demais ver o nariz do rato sair sangue (de tanta força que ele fez pra sair). Enfim, para botar em prática o triste destino do pequeno ratinho, Camila o jogou no lixo. Depois, Estevam levou lá para fora, o saco com o rato - quase –defunto dentro. Um segundo depois ele voltou com uma cara péssima, dizendo que não deveria ter feito isso porque o ratinho ia sofrer até morrer. E imagino que o dia dele deve ter sido preenchido e dividido entre pensamentos como: por que não o matei logo? Por que enão provei ser um homem? Por que sou um saco de batatas? e entre a imagem do pobrezinho agonizando dentro daquele sufocante e nojento saco preto. Depois desse maravilhoso começo de dia, fomos pra aula. No dia seguinte, guess what? Outro “fuckin tiny” ratinho preso na cola. Dessa vez, nem a Camila fez o papel de macho da casa. Todos correram léguas dessa tarefa e sobrou pro Estevam. Era a vez dele se redimir e mostrar sua masculinidade. Colocou o ratinho no saco e o matou a pauladas. Caramba, hein, Estevam? Passou de macho a muiiiiito malvado, insensível e sacana (kkkkkkkkkkkkk. Foi o que ele disse quando brigamos com ele: “se não mata não é homem e se mata é um monstro” hahaha). No dia seguinte e nos vários outros depois, nada de ratinhos na cola. Só pulando a escada na calada da noite e entrando atrás da lixeira, na toquinha deles e amedrontando nosso cotidiano londrino, na nossa deliciosa casinha, construída na mais famosa rua de Londres, a Abbey Road ( a mesma da capa do famoso CD dos Beatles). Até sentir os sintomas de leptospirose eu senti, depois de pegar minha capa de chuva debaixo da cama e encostar os dedos em uns pingos de água que nela estavam. Of course, fiquei dias achando que era o bendito do rato que tinha ido visitar meu quarto de noite. Passei noites em claro pensando que as dores da minha perna de subir o morro da minha escola eram um dos avisos que meus dias estavam contados por causa da doença. Mas, Graças a Deus estava enganada. Ainda estou viva, afinal de contas.
Entre sticks e “comidinhas venenosas” para os ratinhos, compradas no supermercado pelo Thiago, nossa vida continuava normalmente. O macho da casa foi embora pro Brasil e veio outro no lugar dele, o Osvaldo (quer dizer, ainda só o vi TENTANDO provar isso). Que no dia que viu o rato pulando a escada correu e pegou a lanterna (daquelas de colocar na cabeça) e ficou o procurando dizendo em alto e bom som que “NÃO! Não dividiria essa casa com ratos!” E que só dormiria depois de matar aquele desgramado que pulou da escada ( coitado. Já chega ter que dividir o quarto com duas garotas, né, Osvald kkkkkkk. Assim não rola, né?). A história continua. Esse fim de semana teve gente pulando feito maluco na frente do rato –mor (Pompom ou Mickey? Qual dos dois passou dessa pra pior (ou melhor. Sabe-se lá)?) preso na cola. O Thiago conseguiu pegar mais um. E o matou a sangue frio ali na cozinha mesmo. Não a marteladas. Como se já não bastasse o pobrezinho estar preso em um stick, ele o esmagou com outro, fazendo um sanduíche de rato (ao menos esse morreu como gostaria de ter vindo ao mundo hehe. E sim! O peixe morre pela boca. Coitado) Argrghh! O fim dessa história? Infelizmente, acho que não estarei aqui pra contar. Vou embora em Dezembro mesmo. Já me decidi (estava vivendo a tal da crise dos três meses, pensando em ficar ou não ficar, eis a questão!). Natal. Uma época propícia para encontros de família. Os ratinhos perderam alguns componentes da sua. Mas, pelas visitas “ratutinas” que a ainda recebemos no melhor lugar da casa, podemos mesmo concluir que essa família é beeeeem grande. E o Natal está quase aí! Tomara que a reunião da ascendência “fuckin tiny” não seja por aqui. Não por mim. Mas, pela minha irmã que anda dizendo por aí que vai ficar aqui mais um mês ...


Quase final de outubro, Ludi vai embora semana que vem (já sinto o vazio das nossas reuniões matutinas, diurnas e noturnas na “salinha” da nossa casa, como ela mesma diz). Quase quatro meses aqui e apenas dois pra voltar pra casa. Mariana está trabalhando em um Pub, três a quatro vezes por semana. Eu procurando algo e pensando se quero meeeeesmo trabalhar por aqui (That´s a shame, hein Flávia??). Inglês melhorando. Saudade aumentando. Crescimento pessoal vindo à tona. Algumas dolorosas notícias que chegam com o vento gelado de Londres do Brasil. Daquelas de furar o peito feito faca. É a vida. É a minha vida em London. É o frio chegando. São as folhas morrendo e cobrindo de beleza as ruas da cidade. Esse vai ser o outono mais lindo que já vi em toda ela...

(E essas notícias tristes? O que fazer com elas? Just throw in the bin, diria Estevam ;*))

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Keep walking...

... devagar e sempre!!



Como não poderia deixar de ser, existem momentos inesquecíveis que vivemos estando longe de casa. Não somente aqueles que nos tomam os olhos com sua grandeza, como as construções magníficas de Paris, ou com sua beleza, como o nascer de uma mágica noite na esplendorosa Torre Eiffel nessa mesma cidade –luz- magnífica-amor, ou mesmo como o pôr-de-sol-laranja-amarelo- ouro arrebatador visto da praia de Brighton, uma cidadezinha que fica a uma hora, mais ou menos, de Londres. Os momentos inesquecíveis que vivemos morando em outro País são aqueles cotidianamente normais que nos fazem ver, como em filmes, todas as etapas da nossa vida que ficaram para trás. Algumas partes mal feitas dela, outras esquecidas e milhões de outras não vividas, e claro, várias horas perdidas em complexos momentos arrastados que se misturam às responsabilidades cotidianas que “comprou” junto com o pacote da viagem (sem excluir as horas de lutas em árduos e longos rounds contra os próprios medos, inseguranças e incertezas, por favor!). Para quem já mora sozinho e se vira há anos no próprio eixo de seu corpo, porque se não ele não para em pé, essas tais responsabilidades cotidianas são “fichinhas”. Mas, para quem, como eu, que sempre teve fácil vida?!? Humm! Talvez, por essa e por outras, que o filme “eu não posso reclamar da vida que tenho” está como o primeiro da lista dos mais vistos nas telas da minha mente. Desde pequena meus pais me deram tudo o que era preciso para sobreviver e mais aquelas coisas extras que se dá para uma filha vaidosa e, às vezes, e agora confesso, mimada. Estudei nas melhores escolas, tive as melhores roupas, os melhores brinquedos, nunca precisei cozinhar, lavar e passar e, pasmem, arrumar a minha cama? Só na hora de ir deitar ou aos domingos, quando a santa da perfeita Dilma, empregada lá de casa, tem o dia de folga. A minha antepenúltima aquisição foi um carro, dado pela minha fofa mãe; a penúltima, a troca desse carro antigo por um novo, aquisição quase que dada pelo meu PAItrocinador, que financiou pra mim as parcelas em quase meia dúzia de anos, ou uma vida inteira, para quem já está no auge dos seus 27 anos (almost 28. Oh, dear!) e sem muiiito dinheiro no bolso, ou na conta bancária. A última foi dada também por ele, essa viagem na qual me encontro e que costumo chamar de “ou vai, ou raxa, minha filha”.
Uma das partes do meu cotidiano que eu mais adoro é a de ir para aula no segundo andar do ônibus. De lá de cima vejo melhor a vida normal das pessoas normais (será? hehe) daqui. Gosto de imaginar o que fazem como são, onde trabalham, se são felizes com seus maridos, ou esposas, se os traem, se estão satisfeitos com a vida que levam, como cuidam de seus filhos (esses pequeno-grandes sortudos que já irão crescer sem fazer o mínimo esforço possível para aprender o inglês, pode? Que sorte!!), quais seus hobbies, seus mais secretos medos, a cor do seu carpete, a comida preferida, blá blá blá. Será que eles pensam como eu, quando, às vezes, viajo e me perco em meu próprio juízo tentando responder o que diabos fez essa pessoa para nascer aqui? Porque essa menina que está sentada do meu lado e fala esse diabo de língua feia que nem sei da onde é, nasceu no País onde nasceu? E eu, minha irmã e o cara sentado na minha frente, que diabos fizemos para nascer no Brasil (e não saber falar completamente esse tal de inglês, essa meleca de língua universal (quem foi que inventou isso?)). Uhmm. Alguém!?!? Alguém aí do outro lado sabe me responder? Talvez se você for como eu, sem respostas, levará para túmulo as dúvidas que tais perguntas nos incitam. Mas, se você, assim como eu também, já saiu de casa para viver em outro país, vai saber responder milhares de outras questões e ainda mais complexas do que essas. Complexas porque, a maioria delas é sobre você mesmo. Você acaba descobrindo que tudo, TUDO, mas tuuuudo mesmo que acontece com você se encaixa perfeitamente e que as coisas “caem” na hora exata que têm que "cair". Algumas pessoas discordam. Acredito na hora exata, mas, obviamente, acredito que para que aconteçam mesmo, você deve querer enfrentá-las e segui-las. Ou não! Aham! That is the question! A pergunta existe e a resposta dela depende do que fará você para encontrá-la. Por que é que você se meteu a escolher essa profissão ordinária que é o jornalismo e não passou no vestibular pra psicologia? Por que cargas d´água você não largou tudo antes, menina, e não viajou logo? Por que é que então decidiu largar tudo agora e viajou? Por que, caraaaaaca, não levou mais a sério antes seu caro cursinho de inglês? Por que não decidiu pela Austrália, esse País mais quentinho, ou pelo Canadá, aquele País mais barato? Por que? Por que? Por queeeeeee? (Alguém aí sabe o segredo de morar em Londres e continuar magro? (sem respostas como: para de comer besteira, chocolates, ou vá correr no frio de 15 graus nesse final de verão, hein MÃE??). Essa, eu ainda não descobri hehehe). Já sei as respostas de umas, e as de outras, continuo caminhando para encontrá-las. Não deposito todas as fichas nessa viagem de que eu vá mudar da água pro vinho, ou de que ela vá, simplesmente, apagar todos os meus piores defeitos – meus mais profundos e, há quem diga, eternos inimigos desde a infância. Até porque são seis meses, tempo insuficiente para, acredito eu, nascer novamente. Algumas dúvidas talvez voltem para o Brasil comigo ( as danadas pelo visto vieram apenas para as férias em Londres). Ou talvez não. Não sei. Talvez volte mais forte. O suficiente para ver que viver com dúvidas não é decente, de seguir o caminho que quero seguir e traçar os planos que ainda quero realizar. Sem medo. Será assim porque terei um parâmetro. Saberei comparar. Porque eu tive coragem de vir. Eu vim. Estou aqui. Vivendo o que sempre soube que tinha que viver e não vivi porque ainda não tinha coragem. Porque ainda não era hora. Ainda faltam três meses e até lá, muuuuuita coisa pode mudar e acontecer. Por faltar tão pouco, (e às vezes tanto), eu tenho vivido mais AQUI. Quero sorver tudo e o máximo que puder. Não quero deixar escapar um só momento dessa grande oportunidade. Experiências e dificuldades com a língua, amizades com as pessoas de outros países, crescimento pessoal. E é assim que ando fazendo. E ando mesmo orgulhosa de mim mesma (menos medrosa certeza! eu já estou). Aqui, sorvo cada letra da famosa expressão latina Carpe Diem (claro que no sentido otimista atual, porque não estamos mais no período de ameaça do Império Romano e, nesse caso, o amanhã NÃO será trágico). Porque viver cada dia como se fosse o último ainda vai me levar longe. E se for o último dia mesmo, eu vou embora com várias perguntinhas já “respondidíssimas”. And, that is the most important answer that I found here ;*)

Carpe Diem (na conotação atual) para você também!!!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que se aprende morando em outro País:


- que você é muito mais forte e responsável do que pensa;
-que você nasceu sozinho e vai morrer sozinho;
- que só você pode fazer tudo dar certo (ou errado) pra si mesmo;
- que você pode tudo, basta acreditar e querer;
- que nada é impossível e que, ao mesmo tempo, TUDO é possível;
- que a mente pode ser sua pior inimiga ou sua melhor amiga, depende do que você quiser que ela seja;
- que as pessoas que deixou para trás, ou as que conheceu agora, podem te surpreender tanto positivamente, quanto negativamente e que você deve estar preparado para colher essas “surpresas”;
- que fazer novos amigos é MA RA VI LHO SO e cultivar os velhos é MAIS maravilhoso ainda;
- que a saudade existe de verdade e dói;
- que ficar sozinho, by myself, só com você quando ainda não se conhece, pode ser realmente gratificante;
- que o respeito é bom e todo mundo gosta;
- a fazer direitinho uma compra de supermercado;
- a poupar e dar valor ao dinheiro que não é seu;
- que se você não fizer sua própria comida você morre de fome, porque ninguém vai cozinhar pra você (a não ser que você esteja com sua irmã que adoooora fazer comida ;*))
- o mesmo você aprende em relação a lavar suas roupas e a passá-las;
- que sua auto-estima e a autoconfiança são os acessórios mais importantes que deve levar na mala;
- que o amor de verdade te preenche muito mais do que uma simples atração física;
- a perder;
- a ganhar;
- que viver, e muito bem, sem a tal da frescura pode ser uma delícia;
- que cada um tem seu ritmo, sua vocação e seu caminho;
- que precisa enxergar e aprender a conviver, e bem, com suas próprias limitações;
- que ter paciência com você mesmo só pode fazer bem para seu aprendizado;
- que agradecer a oportunidade que lhe foi dada para quem a lhe proporcionou é o mínimo que pode fazer quando acorda todos os dias;
- que a carência e a solidão podem ser perigosas combinações e companhias;
- que você ama demais seus pais apesar das controvérsias;
- que ama também seus cachorros;
- que chorar por saudade, amor ou medo de coisas novas não é fraqueza;
- que seu País e sua língua, sua comida, seu clima e sua água mineral são as melhores do mundo inteiro;
- que comunicação é primordial na vida dos seres humanos;
- que deveria ter dado mais ouvidos ao seu pai quando ele lhe aconselhava a levar mais a sério os estudos de inglês, porque aprender outra língua é essencial e pode ser divertido;
- que o mundo é grande na teoria, mas prática ele é pequeno e cabe na palma da sua mão e você pode dar a volta nele todinho, se quiser;
- que existem as ótimas possibilidades e as grandes oportunidades e que só você pode, primeiro, escolher quais são as melhores para você e, segundo, agarrá-las e segui-las, porque você é dono de si mesmo e o único responsável pelo que lhe acontece;
- que a vida é uma só e é uma festa e que, para essa festa, você pode convidar apenas quem você quiser;
- que “viver com medo é viver pela metade” e que a pessoa que escreveu essa frase (se não me engano, ela é do filme Vem Dançar Comigo) estava coberta de razão.

São coisas que você pode até já saber, mas reafirma. E se você não sabe e, mesmo assim, não aprende tudo isso morando em outro país, ao menos noção de que precisa aprender você passa a ter. Trust me!! ;*)